quinta-feira, 9 de junho de 2011

SABERES DOCENTES E O DESENVOLVIMENTO DE OBJETOS DE APRENDIZAGEM

 Considerações finais
Durante o processo de produção de três objetos de aprendizagem relacionados ao conteúdo de trigonometria no primeiro semestre de 2006, passou-se a questionar qual deveria ser a melhor forma de solicitar o “retorno” do pensamento dos alunos. Inicialmente, trabalhamos com questões como a do objeto9 de aprendizagem produzido por nós anteriormente.
Rodrigues (2005, p. 89), ao analisar o desenvolvimento da prática pedagógica desenvolvida no laboratório de informática de uma escola pública, observou que os alunos apresentaram a problemática relacionada
à compreensão e ao retorno das perguntas presentes no material didático digital, denominado por nós de “transbordando conhecimento”. O autor, analisando as respostas fornecidas pelos alunos, apresenta o seguinte comentário: “Em relação às respostas das questões, verificamos que algumas questões dão opção ao aluno de respondê-las sem necessitarem de conhecimento matemático. Outras não proporcionaram subsídios para concluirmos se o aluno possui conhecimentos sobre o que está respondendo”.
Em um primeiro momento da reflexão coletiva, chegou-se à conclusão de que esse problema estaria resolvido se fossem aprimorados os seguintes aspectos: linguagem, nível de dificuldade, relação com a teoria,
dentre outros. Refletindo com profundidade sobre essa questão, tivemos muita dificuldade em encontrar o melhor caminho, pois passou-se a observar que é difícil acreditar que a respostas dos alunos irão seguir
plenamente o contexto do raciocínio de quem as elaborou. Observamos que o objeto vai ser trabalhado em diferentes contextos e que as perguntas poderiam fazer mais ou menos sentindo dependendo do contexto no qual elas fossem utilizadas.
A nossa discussão coletiva passou, então, a girar em torno da elaboração de perguntas abertas que evoluíram para a proposta de elaboração de relatórios sobre determinada situação abordada no objeto de aprendizagem. Contudo, ao ser discutida a realidade da prática pedagógica desenvolvida pela maioria dos professores de nossas escolas, observamos que essa proposta encontraria muita resistência em ser
trabalhada.
Esse estudo nos possibilitou refletir sobre a prática profissional do professor. As perguntas mais fechadas
“facilitam a vida” do professor porque ele não precisa realizar grandes intervenções no trabalho com o objeto de aprendizagem, uma vez que o seu papel é dizer se o aluno forneceu as respostas corretas ou não. Entendemos também que o objeto de aprendizagem com perguntas fechadas está mais próximo da prática educativa de muitos professores que não possuem tempo para refletir sobre as respostas fornecidas pelos alunos.
Notamos, ainda, que o trabalho com relatórios ou perguntas abertas não é uma prática comum em nossas escolas. Compreendemos que dois fatores interferem diretamente no trabalho cotidiano do professor. O primeiro, diz respeito às condições profissionais dos professores; o segundo, à formação do professor, porque ainda não é comum em muitos cursos de formação inicial ou continuada a prática pedagógica de se trabalhar o ensino com pesquisa (SOUZA JUNIOR, 2000).
Nesse trabalho coletivo, chegamos ao impasse entre o ideal dos
acadêmicos (professores universitários) e a prática do professor no
cotidiano da escola. Se, por um lado, objetiva-se desenvolver propostas
pedagógicas inovadoras que favoreçam a aprendizagem dos alunos, por
outro temos o argumento de que o material pedagógico digital deve ser
elaborado para o “professor real”, que enfrenta a dura realidade de
nossas escolas. Esse dilema foi expresso da seguinte maneira: “se ficar
parado a educação não avança e, se fizermos objetos muito avançados,
eles correm o risco de serem poucos utilizados e, conseqüentemente, os
alunos dificilmente terão acesso a essa importante ferramenta cultural
que pode favorecer a sua aprendizagem”.
Após um longo processo de discussão coletiva e de diferentes
argumentos utilizados, passamos a elaborar os objetos de aprendizagem
com três ou quatro atividades e, em cada uma delas, existe uma pergunta
aberta ou problematização de uma determinada situação, na qual o
aluno deve elaborar um relatório. Para dar subsídio ao “trabalho do
aluno”, são apresentadas de três a cinco questões que servem como guia
para a elaboração do seu relatório.
Na proposta de trabalho com esses objetos de aprendizagem no
cotidiano da escola, apresentamos uma dinâmica que possibilite a
integração de suas aulas com o trabalho no laboratório de informática.
Em relação ao tempo previsto, foi proposto que, para cada atividade do
objeto de aprendizagem, serão utilizados três momentos. No primeiro,
o aluno explora o objeto de aprendizagem; no segundo, ele elabora o
seu relatório e no terceiro momento o professor faz a sistematização
do conteúdo abordado por meio de uma discussão coletiva com base
na reflexão dos relatórios entregue pelos alunos.
Observamos, procurando compreender de que forma os objetos de
aprendizagem podem contribuir para o processo de ensinar e aprender no
cotidiano da escola, que eles devem favorecer a interação entre os alunos e
o professor em torno da aprendizagem de um determinado conteúdo
curricular. Atualmente estamos trabalhando em uma “posição mista” por
meio da elaboração de pergunta aberta (relatório) e perguntas fechadas
que servem como guia para a elaboração do relatório dos alunos.

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